quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Qual é a melhor cidade em termos de cultura?


Recebemos de nosso querido amigo e professor Jerry Udler um artigo do jornal inglês “The Guardian”, do correspondente de arte Mark Brown, tão interessante e informativo que resolvemos traduzir e repassar para nossos leitores.[1]


Ópera de Sydney – Austrália

Qual é a melhor cidade em termos de cultura? 
Nova pesquisa esmiúça os números.

O levantamento feito mostra que o maior número de cinemas fica com Paris, de museus com Londres, de livrarias com Tóquio e de teatros com Nova York.


Lincoln Center – NovaYork

Nova York abriga mais teatros que qualquer outra grande cidade, segundo a nova pesquisa sobre ofertas culturais nas cidades.

Paris tem três vezes mais cinemas que Londres, o dobro de bibliotecas públicas, um número muito maior de livrarias, teatros e musicais; enquanto que Londres tem mais museus, restaurantes, casas noturnas e áreas verdes.


Opera Garnier – Paris

Os números emergiram do Relatório Mundial de 2012 sobre a Cultura nas Cidades, publicado no último dia 1o. agosto - um levantamento internacional, o maior nessa categoria que apura em minuciosos detalhes o número de ofertas culturais de doze cidades, embora os autores frisem que a pesquisa não tem o intuito de classificá-las.

Um dos pontos centrais do relatório é que as metrópoles são tão importantes em termos de cultura quanto em finanças ou comércio. O relatório diz: "A Cultura em todas suas diversas formas é o ponto essencial para tornar uma cidade atraente às pessoas cultas e, portanto para as empresas que buscam empregar esse mesmo segmento de indivíduos."



Grande Teatro Xangai – China

O relatório foi encomendado pelo prefeito de Londres, Boris Johnson, e publicado para coincidir com uma reunião de cúpula cultural em Londres, em que representantes das 12 cidades - Londres, Berlim, Istambul, Joanesburgo, Mumbai, Nova York, Paris, São Paulo, Xangai, Cingapura, Sidney e Tóquio - se reunirão para discutir objetivos comuns.

Johnson disse: "As metrópoles mundiais são núcleos internacionais para o comércio e transações de negócios, mas como este relatório inovador deixa claro, elas se constituem também em polos incrementadores de cultura – em Londres as indústrias de criatividade sozinhas contribuem com 19 bilhões de libras para a economia inglesa e empregam 386.000 pessoas. Reunidos como lideres das cidades e legisladores, queremos aproveitar todo o potencial da cultura, que torna nossas cidades lugares interessantes e desejáveis para se viver e visitar, mas também fazer uma enorme contribuição para ampliar objetivos sociais e econômicos."


Covent Garden - Londres

O relatório diz que a contribuição das artes e indústrias criativas é fundamental para a saúde de uma cidade.

Ele utiliza 60 indicadores diferentes e revela que Londres tem 173 museus, sendo 11 museus nacionais, enquanto Berlim tem 158 combinados, Paris tem 137 e Nova York tem 131. Paris tem mais galerias de arte (1.046), seguida por Londres (857), Nova York (721) e Tóquio (688).


Ópera – Tóquio

A importância das bibliotecas públicas é explorada com Paris vindo no topo em termos numéricos. Tem 830 bibliotecas públicas em comparação as 477 de Xangai, 383 de Londres, 377 de Tóquio, 234 de Johanesburgo, 220 de Nova York, 154 de Sydney e 88 de Berlim. Paris também tem mais livrarias – 1.025 contra 802 de Londres, apesar de Tóquio vir na frente com 1.675, Xangai tem 1.322 e Joanesburgo tem 1020.

Paris é a cidade que tem mais cinemas (302) e telas de cinema (1.003) no mundo, enquanto Londres tem 108 cinemas e 566 telas.

Nova York sai na frente em termos de número de salas de teatros. Tem 420, comparada com 353 em Paris, 230 em Tóquio, 214 em Londres e 184 em Istambul.


Metropolitan Museum – Nova York

As bilheterias de teatro de Londres estão em segundo lugar no mundo com 14.200.000 de ingressos vendidos, mas essa quantia é ofuscada por Nova York que tem o dobro desse número: 28.100.000 ingressos vendidos.

Paris lidera em termos de espetáculos musicais ao vivo: um total de 423 comparados aos 385 em Tóquio, 349 em Londres, 294 em São Paulo e 277 em Nova York.

Londres lidera na categoria comédias com 11.388 apresentações comparadas com as 11.076 de Nova York e 10.348 de Paris. E a cidade também tem um número surpreendentemente elevado de restaurantes: são 37.450, ou 478 restaurantes para cada 100.000 habitantes.


Centro de Artes – Cingapura

O relatório expressa a premissa por parte de alguns, que o mundo está sofrendo um 'achatamento' ou tornando-se mais homogêneo; e que as cidades estão se tornando lugares mais semelhantes.

"O que une as cidades do mundo umas as outras são as atividades comerciais e as finanças. O que as faz diferentes entre si é a cultura."

O relatório afirma que muitos elementos culturais moldam uma cidade a despeito de “suas lojas de discos, seus grandes ou pequenos espetáculos musicais, suas bibliotecas e livrarias, seus museus e galerias, seus parques e áreas verdes, clubes, estudantes e cafés”.



Ilha dos Museus – Berlim


Paul Owens, da empresa de consultoria BOP Consulting, que liderou a equipe de pesquisa afirmou: "A cultura é um fator sub pesquisado e mal compreendido no que diz respeito ao sucesso social e econômico das metrópoles do mundo. 

O Relatório Mundial sobre a Cultura nas Cidades é o mais abrangente estudo comparativo desse tipo - uma rica fonte de dados e informações com a mais recente e melhor diretriz política sobre a cultura mundial. Vai ser uma ferramenta extremamente valiosa para os legisladores sobre como planejar estratégias futuras voltadas para o desenvolvimento e investimento. "


Auditório Ibirapuera – São Paulo

Espero que aproveitem todas essas informações!!



Colaboradora: Virginia Figliolini Schreuders





[1] guardian.co.uk, Wed 1 de agosto de 2012 09.59 BST

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Rio de Janeiro – Um passeio por Santa Teresa


Essa semana vamos fazer um tour diferente por Santa Teresa com o guia, Marcio Macedo da empresa Curumim[1], conhecendo desde um projeto super interessante no morro até galerias de arte como o Circuito Oriente e o evento Arte de Portas Abertas.

Santa Teresa é um bairro super antigo do Rio de Janeiro, hoje também chamado de “Chelsea carioca”, está se revitalizando. Mesmo sem os famosos bondinhos que só voltarão a circular por lá no segundo semestre de 2014, pode-se ver grande movimento de turistas, uma vez que ali se reúnem nos dias de hoje artistas, ateliers, galerias, hotéis, restaurantes, e museus.


Vista de Santa Teresa

Porque Santa Teresa? O artista Renan Cepeda já morava em Santa Teresa e ocupou um espaço onde antes foi uma padaria. Os artistas são na sua maioria jovens e gostam do bairro porque além de ser muito difícil encontrar espaços bons no Rio de Janeiro, juntos conseguem criar ações coletivas.


Santa Teresa

Circuito Oriente
O Circuito Oriente é uma ação coletiva já na quinta edição com uma programação quase mensal que reúne vários ateliês da Rua Oriente, todos em Santa Teresa. Promovem inaugurações de exposições e alguns cursos. Boa parte dos ateliers são casas dos próprios artistas onde aproveitam para mostrar os seus trabalhos. 

As visitas são feitas com hora marcada. Fazem parte deste circuito: Estúdio 19 (Júlio Castro e Magliani), Atelier Oriente (Renan Cepeda, Kitty Paranaguá e Thiago Barros), Ateliê Oriente, EuVira, Cama e Café Canto da Carambola. 

Esse evento acontece um sábado ou um fim de semana por mês: é um programa muito divertido, você sai do Largo das Neves e vai andando e visitando as várias galerias até o Largo do Guimarães, um passeio delicioso para se fazer.


Galeria de Fotografia


Rua do Oriente


Arte de Portas Abertas
R. Felício dos Santos 9 casa 1
Tel: +55 21 2507–5352

É uma outra ação coletiva, que se realiza uma vez por ano, também em Santa Teresa: são 77 artistas em 48 ateliers e 19 espaços culturais. O evento esse ano, já na 22ª edição, foi de seis à oito de Julho. 

Os artistas abrem suas portas para mostrar seus trabalhos durante um fim de semana. Eles oferecem um mapa do que tem no circuito: espaços de cultura, gastronomia, lojas, projetos sociais e espaço de moda.


Arte de Portas Abertas



Museu Chácara do Céu ou Museu Castro Maya
Rua Murtinho Nobre, 93 - Santa Teresa
Tel: +55 21 3970–1126

A casa de Santa Teresa, conhecida desde 1876 como Chácara do Céu, foi herdada por Castro Maya em 1936. A construção atual, projetada em 1954 pelo arquiteto Wladimir Alves de Souza, destaca-se pela modernidade das soluções arquitetônicas e por sua localização. A vista que se tem dos jardins é maravilhosa! 360 graus sobre a cidade e a baía da Guanabara.

O acervo é riquíssimo: reúne arte européia, Matisse, Degas e Miró, arte brasileira, Guignard, Di Cavalcanti, a maior coleção de Portinari, e uma biblioteca com 8000 livros.

Curiosidade – D. Pedro II convidou pessoalmente o pai de Castro Maya, homem muito culto, para ser preceptor de seus netos.


Museu Chácara do Céu


Museu Chácara do Céu


Parque das Ruínas
Rua Murtinho Nobre, 169 – Santa Teresa
Tel: +55 21 2224–3922
Localizado no alto do morro em Santa Teresa, o parque é um belíssimo mirante com uma vista incrível do centro da cidade e das praias, praticamente 360 graus. O museu das ruínas ocupa a casa que pertenceu a Laurinda Santos Lobo e hoje é o Centro Cultural Laurinda Santos Lobo. Dona de uma grande fortuna, Laurinda herdou a Companhia Mate Laranjeira de seu tio Joaquim Murtinho. 

No Rio de Janeiro da Belle Époque, conhecida como a Diva dos Salões, Laurinda foi uma referência em elegância para a sociedade. Transformou sua casa em Santa Teresa num centro de encontros da intelectualidade carioca da época e emprestava seu nome e prestígio em prol das lutas feministas.
Rua Monte Alegre, 306. - Tel: 2242-9741


Parque das Ruínas


Hotel Santa Teresa - Relais & Chateaux
Rua Almirante Alexandrino 660, Santa Teresa, RJ

Vencedor do Travellers' Choice 2012
Localizado na área mais nobre do bairro de Santa Teresa, o hotel Santa Teresa fica no local de uma antiga fazenda colonial. 

Totalmente restaurado o hotel boutique é sofisticado e charmoso sendo padrão de referência do design tropical brasileiro no Rio de Janeiro. Jardins lindos, piscinas com vista para a cidade, SPA da Natura, bar super romântico dos solteiros, lounge confortável. Tem uma vista panorâmica da cidade, do porto, e da Baía de Guanabara que pode ser apreciada de todos os quartos e jardins.


Hotel Santa Teresa


Piscina e jardim do Hotel Santa Teresa


Restaurantes

Térèze
É o restaurante do hotel Santa Teresa, decoração muito bonita, famoso por sua gastronomia franco-brasileira do Chef Damien Montecer que já trabalhou com Alain Ducasse, Gordon Ramsay e no Garcia e Rodrigues.


Restaurante Térèze


Aprazível
Rua Aprazível 62
Santa Teresa, Rio de Janeiro
+55 21 2508–9174

No alto de Santa Teresa você chega a se esquecer que está no Rio de Janeiro, porque o bairro guarda ainda um ar de cidade pequena. 

O casarão do restaurante tem uma vista incrível da cidade, a decoração é simples e de bom gosto, o verde exuberante e a cozinha serve saborosos pratos típicos brasileiros. Por tudo isso é um lugar que vale a pena conhecer.


Restaurante Aprazível


Bar do Mineiro
Rua Paschoal Carlos Magno, 99
Tel: +55 21 2221–9227

De 1992 o Bar do Mineiro, de uma família mineira, fica em um sobrado com portas em arco, paredes ladrilhadas e fotografias de grandes personalidades nas paredes. É um dos bares mais conhecidos e da cidade e disputado por jovens e turistas. Deliciosa comida mineira e pastéis


Bar do Mineiro


Projeto Morrinho
Rua Pereira da Silva 826, parte 1, Laranjeiras
Tel: +55 21 8308 6298

Cilan Oliveira foi quem nos recebeu na entrada do Projeto. É um rapaz de 23 anos e foi quem começou há quatorze anos em forma de brincadeira a maquete em que se transformou o Projeto Morrinho. Cilan nos contou como começou a estória do projeto: há 14 anos ele e alguns amigos brincavam de Lego (lego para essas crianças são tijolos de cimento furados como podemos ver nas fotos) no morro, e chamou a atenção de um sociólogo francês que visitava a favela 

PS. Olhando mais atentamente percebeu que a brincadeira retratava a vida cotidiana dramática das famílias dessas crianças, ou seja faziam com o Lego o que viam: pais bêbados, mães e crianças que apanharam, muita droga etc.. para escapar da realidade de violência e corrupção do lugar, começaram a construir a maquete do Morrinho, que representava sua realidade de mundo.


Projeto Morrinho

O sociólogo incentivou a brincadeira porque percebeu que era uma maneira saudável dessas crianças elaborarem a dramaticidade de suas vidas. Cilan cresceu e projeto se desenvolveu até se tornar o que é hoje. Já foram para 14 países até na Bienal de Veneza se apresentaram. 

Eles tem um pequeno e singelo escritório no alto do morro perto dos legos com filmes e DVDs contando a história deles. Cilan é hoje o representante e guia local do projeto, se apresenta muito bem vestido e conta tudo com muito orgulho, nos levou até a visitar a casa dele, onde vive com os pais e os irmãos. Todas as frase que estão escritas na maquete são de Cilan, tipo “o lixo dos outros é luxo de alguns”que se tornou um verdadeiro poeta. 

Andamos duas horas pela favela, entramos em Santa Tereza e saímos em Laranjeiras, subindo morro acima e morro abaixo. Eu contei mais de 48 crianças abaixo de seis anos, das quais Cilan era padrinho da maioria.


Cilan Oliveira

O principal objetivo desse projeto é despertar a comunidade local para uma mudança positiva de vida e tentar revelar como as favelas são vistas pelas pessoas. 

Na prática esse projeto atua desde 2004 realizando exposições, filmes e workshops com os jovens criadores da obra “Morrinho”. Desse modo o projeto social quer contribuir com os jovens carentes da comunidade aumentando a auto estima deles, ao mesmo tempo em que ajuda a gerar renda para eles.

A obra “Morrinho” construída dentro da favela Pereira da Silva no Rio é uma maquete em tijolos e materiais reciclados feita em pequena escala com 350 metros quadrados. Hoje, esse projeto conta com quatro iniciativas: TV Morrinho, Turismo no Morrinho, Morrinho Exposição e Morrinho Social.


Escritório do Projeto Morrinho


Favela Pavão
Fomos conhecer o elevador panorâmico do Complexo Rubem Braga, projeto do escritório João Batista Martinez Corrêa, arquiteto paulista, que integrou favela e asfalto em Ipanema e deu ao Rio mais um ponto turístico. 

A vista é realmente deslumbrante! Foi batizado com esse nome em homenagem ao cronista carioca Rubem Braga, que viveu no prédio ao lado da estação do metrô de Ipanema. O complexo compõe-se de duas torres com elevadores panorâmicos, uma passagem coberta com mais de 300 metros, para facilitar o acesso dos moradores do Cantagalo, Pavão e Pavãozinho ao metrô de Ipanema. 

Em uma das torres fica um posto do Poupa Tempo e para os que preferirem há também acesso por escadas. Antigamente os moradores faziam todo esse percurso a pé! subidas de até 80 metros!!. Do elevador panorâmico uma vista incrível da praia de Ipanema! Três lances de escada da saída do elevador, fica o Mirante Da Paz, com a vista imponente das praias de Copacabana, Ipanema e Leblon, cercadas de um lado pelo Morro Dois Irmãos, de outro pela Lagoa Rodrigo de Freitas e Corcovado, de uma só vez. A cidade é mesmo maravilhosa!


Pavão – vista elevador, torre e passagem

É uma obra arrojada e de importância arquitetônica e talvez um marco na integração social da cidade, que por questões geográficas faz do Rio de Janeiro uma cidade onde a pobreza e a riqueza convivem lado a lado. 

A estreita faixa de terra onde se desenvolveu a cidade está espremida de um lado pelo mar e do outro pelas montanhas que rodeiam a cidade. As favelas surgiram entre a cidade e o alto dessas montanhas, em terrenos ocupados irregularmente ao longo de anos de omissão das autoridades e passaram a fazer parte da paisagem urbana.


Vista do Elevador Panorâmico

Para terminar um trecho do escritor e jornalista mineiro Ruy Castro, que se pode ver em uma das paredes do complexo:

“No auge dos anos 60, o braço armado de Ipanema empunhava um violão. E seu canto de guerra – na verdade, de paz – era a Bossa Nova. Era dele que saíam as insuperáveis melodias, as complexas harmonias e a batida diferente e irresistível que, somada às palavras de seus poetas, faziam de qualquer dia em Ipanema um domingo.”





[1] Marcio Macedo é graduado em Turismo pela Univercidade e pós-graduado em Gestão de Empreendimentos Turísticos pela UFF. É também guia de turismo certificado pelo Ministério do Turismo. É diretor da Curumim Eco Cultural Tours, empresa especializada em roteiros ecológicos e culturais.

Colaboradora: Virginia Figliolini Schreuders